quarta-feira, 8 de maio de 2013

O sócio 100 mil



 O Sporting passa por tempos difíceis futebolística e financeiramente, contudo entrámos numa nova era em que a esperança domina os sportinguistas, esse sentimento que tem sido o grande aliado dos adeptos (e que adeptos!) ganhou novo fôlego com a entrada de mais um presidente.

 Porém gostaria de deixar as finanças e o futebol de parte para me concentrar num "fait-diver", eu sei que os "faits-divers" costumam ser assuntos de importância nula, mas neste caso não podia passar ao lado. Cristiano Ronaldo foi apresentado como sócio 100 mil, no jogo de celebração da passagem dessa marca.

 O menino que se tornou símbolo máximo da escola leonina, dez anos depois de sair do clube e 17 anos depois de nele ter entrado, finalmente adquiriu o cartão verde. A nação verde e branca festejou efusivamente e o craque até teve direito a um comunicado de agradecimento por parte do presidente. Não estarão os sportinguistas a ver as coisas ao contrário?

 Cristiano Ronaldo deve grande parte daquilo que é como jogador ao Sporting, foram muitos anos de trabalho de base que culminaram com a montra na equipa principal. É óbvio que a qualidade esteve sempre lá, contudo, em nenhuma outra parte do mundo o camisola sete  iria encontrar uma "escola" que lhe proporcionaria o que Alvalade lhe proporcionou. Falo dos aspetos técnicos enquanto futebolista mas também dos sociais, e de todo o acompanhamento psicológico a uma criança que aos doze anos aterrou em Lisboa, vinda de uma ilha a 1000 km de distância. Este trabalho invisível teve (e tem) uma importância incalculável na sua caminhada até ao Olimpo.

 O mínimo que o português deveria ter feito era inscrever o seu nome nos associados do clube há muito mais tempo, era um dever moral para com a instituição que o potenciou e está no seu coração. Bastava preencher uns papéis e pagar as cotas todos os meses, não são assim tão caras para alguém com o seu ordenado! O simples ato de guardar na carteira aquele retângulo plastificado verde já demonstraria que a sua ligação ao emblema estava (e está) sempre presente, é algo bastante simples, mas é a maior prova de ligação entre qualquer adepto e o seu clube.

 Do outro lado da moeda estão as sucessivas direções que nunca se lembraram de formalizar essa ligação entre atleta e clube, um ato de gestão cujo grau de dificuldade era nulo.

 O Sporting tem na Academia o seu bem mais precioso, o rótulo "Made in Alcochete" teve muitas horas e suor em cima até ganhar a credibilidade mundial de que dispõe (algo que só está ao alcance de Barcelona e Ajax); muitos jogadores são o que são graças ao seu passado verde e branco, a seleção nacional deve grande parte dos excelentes resultados destes últimos anos ao clube, portanto está na hora de valorizar mais essa relação.

 Não estou muito preocupado que brasileiros, búlgaros, holandeses, ou quaisquer outros jogadores que vêm para Alvalade apenas "trabalhar" sejam ou não sócios do clube, mas em futebolistas que cresceram nesta casa e são referências mundiais ou nacionais tem de ser fomentada a relação clube/jogador como algo muito maior que um simples emprego, ou trampolim para um melhor ordenado no estrangeiro.

 Pelo mediatismo e qualidade futebolística que tem, Cristiano Ronaldo transcende qualquer outro atleta que passou pela formação leonina, daí este discurso algo sentimental e idealista daquilo que deveria ser a ligação entre o craque e quem lhe permitiu tornar-se craque.


P,S- O agradecimento escrito de Bruno de Carvalho ao jogador do Real Madrid pelo seu grande sportinguismo, soa ao "obrigado" de um sem abrigo quando algum desconhecido lhe dá esmola.




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