quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mudança de Paradigma



 Ainda é cedo para se falar de grandes mudanças, só passaram dois meses desde as eleição de Bruno de Carvalho (BdC), mas o novo presidente do Sporting parece mesmo decidido a romper com o rumo que o clube tem levado nestes últimos anos - ou décadas.

 A mudança para ocorrer verdadeiramente, e não passar de um conjunto de simpáticas boas intenções, vai demorar algum tempo, e dar muita dor de cabeça aos seus intervenientes (o presidente já admitiu que o próximo ano será o "ano horríbilis" para si e para a sua equipa"), contudo, a maior dose de aspirinas terá de ser dada àqueles que têm feito do Sporting um bombo da sua festa. Nesses a dor será bem forte.

 Com a recente bipolarização da liga portuguesa, o Sporting viu-se relegado para segundo plano, como tal (talvez devido à rivalidade histórica) as últimas direções optaram pela aproximação ao rival do Norte em detrimento do da Segunda Circular, opção mais desastrosa não poderia ter havido.

 Pinto da Costa (PC) é um exímio defensor dos interesses do seu clube, nenhum passo, nenhuma declaração, nenhuma decisão é feita sem que os interesses dos F.C Porto saiam por cima, quem adere a esta politica é considerado amigo, quem faz frente vai para a lista negra. Ora, o clube de Alvalade escolheu ser um simpático amigo, com presidentes a elegerem o homem do Norte como modelo presidencial a seguir, transferências inacreditáveis a serem efetuadas, um capitão e símbolo da formação a forçar usar azul, e um constante silêncio em assunto que não agradavam ao "chefe". Tudo isto teve um denominador comum, o beneficio dos Dragões, que assim conseguiram um gigante aliado na guerra contra o rival lisboeta. Perfeito para a estratégia divisionista azul e branca.

 Pois bem, a recente troca de palavras entre BdC e PC a propósito dos valores da transferência de João Moutinho para o Mónaco é muito mais que um simples fait-diver, é a estratégia de mudança que o presidente leonino quer implementar, a ganhar os primeiros contornos práticos. O objetivo não é criar inimigos, mas sim acabar com relações de vassalagem, o Sporting não é nenhum clube regional auto intitulado de grande que precisa das "migalhas do pai" para crescer, é um emblema com títulos, história e adeptos, que só tem de olhar para baixo na pirâmide clubística portuguesa.

 Obviamente que se o clube não possuísse os 25% da mais valia da transferência do médio português, este teria saído por um valor maior e James por um menor. PC defendeu os interesses do seu emblema, é completamente legítimo, mas aqui se vê o desprezo total por esta boa relação azul e verde. Outro presidente teria ficado com um falso sorriso na cara, e ignorado o que se passou, BdC achou por bem fazer cara feia.

 Este foi o primeiro acontecimento que permitiu ao novo presidente mostrar que o paradigma da história mudou, se os interesses do clube não são acautelados está aqui alguém para acautelá-los, o clube simpático acabou. O processo de mudança é longo e cheio de obstáculos, mas ou me engano muito ou veremos PC com vários ataques de azedume para com o leão.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Começou o defeso, como irá acabar?



 Maio já vai a meio, os campeonatos estão praticamente decididos, a praia começa a dar sinais de vida, e as férias tomam conta da cabeça de todos nós. Estamos perto daquilo que uns chamam Verão e outros pré-época.

 No nosso país (como em tudo os outros países europeus)  o "cheiro" a nova temporada já paira no ar, os jornais entraram no famoso "modo defeso" (que é sempre uma época alta para as suas tiragens), todos os sonhos e fantasias de qualquer adepto são realizadas; o número de clubes interessados nos melhores artistas é quase infinito; e por fim lá chegam algumas noticias com fundo de verdade. Não adianta perder tempo a criticar, é este o mundo futebolístico.

 Os três grandes nacionais, apesar das realidades distintas que estão a viver, sabem que a crise está aí e com ela um sinal de proibição a qualquer aventura económica; Bruno de Carvalho, Luís Filipe Vieira, e Pinto da Costa já vieram dizer abertamente aos seus adeptos que as palavras de ordem são: contenção financeira. 

 Os dois rivais que ainda lutam pelo título têm muitos ativos na montra internacional, com valores de mercado altos e qualidade suficiente para se imporem nas melhores equipas europeias. Dos quatro cantos da Europa todos os clubes com a carteira gorda estão de olho nos craques "portugueses", deste modo a pré-temporada de Benfica e Porto vai ser movida pelas suas vendas, esse será o aspeto fulcral que condicionará a quantidade e o tipo de aquisições (sem nunca esquecer o tal sinal de proibido). A indefinição vai ser o maior inimigo dos dois emblemas, pois não saber se Moutinho, James, Matic, ou Cardozo sairão, causará grande stress a quem planeia a época. E o substitutos, como gastar "pouco" e conseguir a mesma qualidade? As saídas serão claramente aquilo que irá marcar o Verão destes clubes.

 Quanto ao Sporting o problema é o oposto, sem dinheiro para manter os orçamentos de anos anteriores, o presidente fez questão de avisar a razia que irá acontecer no atual plantel (Rui Patrício  Boulahroz, Rojo, Schaars, Adrien, Capel e Jeffrén julgo que farão no Domingo o último jogo oficial de leão ao peito), a equipa terá novas caras, mas com muita ginástica à mistura. O carrinho de compras leonino terá de chegar à registadora com muitos produtos em desconto, pois o talão é incompatível com contas caras. É nas aquisições que está a chave época sportinguista, sem a montra europeia, e com um teto salarial "baixo", a capacidade prospetiva e negocial de A.Inácio e B.Carvalho terá de vir ao de cima. Fica só o conselho (humilde conselho) para olharem, com olhos de ver, os bons jogadores do mercado interno.

 Os treinadores também são outra questão importante, que parece congelar o próximo Verão, Alvalade Luz e Dragão, vivem dias de indefinição, e se na Luz a coisa parece mais ou menos resolvida, pelo Dragão e (principalmente) em Alvalade, é muito provável a chegada de novos comandantes.

 Entre uns que se preocupam com a oferta e outros que se preocupam com a procura, o mercado de transferências português será aceso, mas a crise está feia e os clubes sabem disso, é portanto de prever que o saco dos craques em Portugal ficará mais leve.




quarta-feira, 8 de maio de 2013

O sócio 100 mil



 O Sporting passa por tempos difíceis futebolística e financeiramente, contudo entrámos numa nova era em que a esperança domina os sportinguistas, esse sentimento que tem sido o grande aliado dos adeptos (e que adeptos!) ganhou novo fôlego com a entrada de mais um presidente.

 Porém gostaria de deixar as finanças e o futebol de parte para me concentrar num "fait-diver", eu sei que os "faits-divers" costumam ser assuntos de importância nula, mas neste caso não podia passar ao lado. Cristiano Ronaldo foi apresentado como sócio 100 mil, no jogo de celebração da passagem dessa marca.

 O menino que se tornou símbolo máximo da escola leonina, dez anos depois de sair do clube e 17 anos depois de nele ter entrado, finalmente adquiriu o cartão verde. A nação verde e branca festejou efusivamente e o craque até teve direito a um comunicado de agradecimento por parte do presidente. Não estarão os sportinguistas a ver as coisas ao contrário?

 Cristiano Ronaldo deve grande parte daquilo que é como jogador ao Sporting, foram muitos anos de trabalho de base que culminaram com a montra na equipa principal. É óbvio que a qualidade esteve sempre lá, contudo, em nenhuma outra parte do mundo o camisola sete  iria encontrar uma "escola" que lhe proporcionaria o que Alvalade lhe proporcionou. Falo dos aspetos técnicos enquanto futebolista mas também dos sociais, e de todo o acompanhamento psicológico a uma criança que aos doze anos aterrou em Lisboa, vinda de uma ilha a 1000 km de distância. Este trabalho invisível teve (e tem) uma importância incalculável na sua caminhada até ao Olimpo.

 O mínimo que o português deveria ter feito era inscrever o seu nome nos associados do clube há muito mais tempo, era um dever moral para com a instituição que o potenciou e está no seu coração. Bastava preencher uns papéis e pagar as cotas todos os meses, não são assim tão caras para alguém com o seu ordenado! O simples ato de guardar na carteira aquele retângulo plastificado verde já demonstraria que a sua ligação ao emblema estava (e está) sempre presente, é algo bastante simples, mas é a maior prova de ligação entre qualquer adepto e o seu clube.

 Do outro lado da moeda estão as sucessivas direções que nunca se lembraram de formalizar essa ligação entre atleta e clube, um ato de gestão cujo grau de dificuldade era nulo.

 O Sporting tem na Academia o seu bem mais precioso, o rótulo "Made in Alcochete" teve muitas horas e suor em cima até ganhar a credibilidade mundial de que dispõe (algo que só está ao alcance de Barcelona e Ajax); muitos jogadores são o que são graças ao seu passado verde e branco, a seleção nacional deve grande parte dos excelentes resultados destes últimos anos ao clube, portanto está na hora de valorizar mais essa relação.

 Não estou muito preocupado que brasileiros, búlgaros, holandeses, ou quaisquer outros jogadores que vêm para Alvalade apenas "trabalhar" sejam ou não sócios do clube, mas em futebolistas que cresceram nesta casa e são referências mundiais ou nacionais tem de ser fomentada a relação clube/jogador como algo muito maior que um simples emprego, ou trampolim para um melhor ordenado no estrangeiro.

 Pelo mediatismo e qualidade futebolística que tem, Cristiano Ronaldo transcende qualquer outro atleta que passou pela formação leonina, daí este discurso algo sentimental e idealista daquilo que deveria ser a ligação entre o craque e quem lhe permitiu tornar-se craque.


P,S- O agradecimento escrito de Bruno de Carvalho ao jogador do Real Madrid pelo seu grande sportinguismo, soa ao "obrigado" de um sem abrigo quando algum desconhecido lhe dá esmola.