sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Liga Bicéfala



 Nos últimos anos a palavra "troika" entrou de rompante no nosso vocabulário, para se tornar vocábulo do dia-a-dia. O país num incêndio de grandes proporções teve de pedir ajuda a três bombeiros estrangeiros, que desde então passaram a ditar as nossas leis. A liga portuguesa também entrou num processo de crise, e tal como o país, a sua liderança é partilhada. Em vez de estrangeiros temos nacionais, e desfaz-se a "troika"  para se entrar numa realidade bicéfala.

 Esta crise é uma crise de competitividade, que tem vindo a acentuar-se na mesma linha da triste realidade do nossa nação, a consequência é a divisão do nosso campeonato entre duas equipas mais fortes e o... resto. Mais que os pontos é gritante a diferença qualitativa entre F.C. Porto, Benfica, e os mais próximos candidatos. O S.C. Braga pratica bom futebol mas a sua irregularidade já o atrasou 15 pontos, o Sporting vive uma das piores épocas da história, e qualquer dos outros emblemas não tem capacidade financeira para sequer sonhar em chegar perto do título.

 É esta a paisagem propícia para lisboetas e nortenhos passearem tranquilamente na prova portuguesa, contudo os dois rivais de tranquilos não têm nada, jogando semana após semana em alta rotação, se o jogo corre mal há uma vitória curta, se as coisas engrenam há goleada. É esta a crónica semanal do nosso campeonato. Fruto da monopolização da massa adepta do pais (juntamente com o Sporting), presenças constantes na "Champions" e avultadas vendas de jogadores, o orçamento deste duo parece brincadeira comparado com as o das restantes equipas do campeonato. Como é possível coexistir na mesma prova um F.C. Porto com 95 milhões de euros orçados e um Beira-Mar ou V. Setúbal que nem chegam aos 2 milhões de euros, estamos a falar de um diferença de cerca de 50 vezes o orçamentos destes clubes que lutam pela manutenção!

 Para um amante do desporto rei (que ligue a futebol e não a clubismos) esta liga só tem interesse nos clássicos, tudo o resto parece-se bastante com as comédias românticas hollywoodianas em que vemos o início e já sabemos o final. Craques como Salvio, James, Moutinho ou Gaitán são demasiada areia para a camioneta competitiva desta liga, e apenas na Europa têm competição digna da sua qualidade. Obviamente que há lado bom da moeda, pois não basta apenas tirar o mérito aos outros, encarnados e azuis têm das melhores equipas das últimas décadas do respetivos clubes e isso vê-se nas competições europeias, com resultados e exibições de categoria na primeira divisão do futebol mundial.

 Esta "espanholização" da principal prova portuguesa é muito perigosa, a longo prazo pode resultar numa assimetria ainda maior entre os 1% e os outros 99%. No nosso vizinhos os problema são minimizados, uma vez que Real Madrid e Barcelona, por maior que seja a diferença para os restantes, são dois dos clubes mais importantes da história do futebol mundial, e uma parada total de estrelas, por isso La Liga jamais perderá grande importância. 

 De entre uma série de medidas, a centralização dos direitos televisivos iria ser um motor de redistribuição financeira bastante útil para o re-equilíbrio da prova


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