segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma proposta ilusória


As eleições na liga foram ganhas com umas promessa eleitoral algo controversa, o aumento para 18 do número de equipas no principal escalão do futebol português. Digo controversa, pois suscitou opiniões opostas, desde os que enaltecem a medida aos que a acham ridícula, que é o meu caso.

Mário Figueiredo foi esperto nas propostas eleitorais que utilizou como bandeira da sua candidatura, tanto a negociação equitativa dos direitos televisivos como o alargamento de clubes beneficiam à maior parte das equipas-quanto mais abrangente for o benefício maior é o número de votos. Mas se a primeira, apesar de muito difícil implementação pode ser bastante benéfica para o campeonato a médio/longo prazo, a segunda proposta demonstra total falta de percepção a respeito da realidade do futebol português, podendo perfeitamente ser apelidada de populista pelo seu carácter lunático, insustentável e amigo dos votos-lembra o primeiro-ministro que é eleito com a promessa de baixar impostos.

A um campeonato pedem-se duas coisas:competitividade e sustentabilidade financeira; cabe a cada país, de acordo com a sua realidade futebolística e socioeconómica reflectir sobre a melhor forma de potenciar essas duas componentes. O senhor Mário Figueiredo-para além da vantagem que lhe deu nas eleições-acha que o aumento de equipas é uma solução para a melhoria do nosso campeonato nessas vertentes fundamentais, seguindo uma lógica superficial de que mais clubes é sinónimo de maior competitividade e riqueza, ou simplesmente com a ideia megalómana de ter um campeonato quase tão grande como as principais liga europeias. É pena isto ser muito bonito na teoria, mas não funcionar na prática; qual é a dificuldade de perceber que Portugal é um país com pouca população, estádios vazios e sem dinheiro?

Por mais emblemas que o nosso campeonato tenha, o bolo económico vai continuar igual, ou seja, direitos televisivos, receitas de publicidade e prémios de classificação, vão manter-se na mesma, a única diferença é a sua divisão por mais equipas. Ao contrário do que parece, a operação matemática aplicada a este caso não é a soma, é a divisão; reparem:dos 8 jogos realizados todas as jornadas costumam ser transmitidos em média 6, ficando 2 de fora. Com o alargamento serão transmitidos os mesmos 6 ficando 3 de fora, em vez de aumentar o número de jogos transmitidos, aumenta o número de partidas não transmitidas.

As bilheteiras continuarão na mesma, já que 80% das equipas só tira partido dessa receita em jogos com os jogos, o resto do campeonato é feito de assistências miseráveis. E há um outro factor muito importante e pouco falado, é a questão da visibilidade, uma fonte de receita indirecta bastante produtiva, pois o prestigio e a divulgação das equipas é tanto maior quanto mais restrito for o campeonato, sendo isso uma de captação das mais diversas receitas. Por outras palavras, as equipas mais pequenas cujas finanças são instáveis ou estão no limite, vão perder dinheiro.

Quanto há competitividade, fica refém das contas dos clubes, que com menos dinheiro constroem planteis mais fracos, cheios de incógnitas que meia dúzia de jogos depois se revelam autênticos flops. Como apenas 7 emblemas têm objectivos mais ambiciosos que a permanência na liga, este aumento vai adicionar duas equipas na penosa luta pela manutenção, ou seja, onde a competitividade é importante (título e Europa) mantém-se na mesma, onde ela não interessa aumentará.

Para finalizar deixo um lista com o número de equipas do primeiro escalão, população, e PIB, dos 12 países melhor classificados do ranking da UEFA-em dados arredondados.

Inglaterra:20 equipas-pop 63 milhões-PIB 2,172 biliões
Espanha:20 equipas-pop 46 milhões-PIB 1.368 biliões
Alemanha:18 equipas-pop 82 milhões-PIB 2.940 biliões
Itália:20 equipas-pop 61 milhões-PIB 1.773 biliões
França:20 equipas-pop 65 milhões-PIB 2.145 biliões
Portugal:16 equipas-pop 11 milhões-PIB 247 mil milhões
Rússia:16 equipas-pop 143 milhões-PIB 2,222 biliões
Ucrânia:16 equipas-pop 46 milhões-PIB 305 mil milhões
Holanda:18 equipas-pop 17 milhões-PIB 676 mil milhões
Grécia:16 equipas-pop 11 milhões-PIB 318 mil milhões
Turquia:18 equipas-pop 73 milhões-PIB 960 mil milhões
Bélgica:16 equipas-pop 10 milhões-PIB 394 mil milhões

Podemos observar que ninguém tem um PIB mais baixo que o nosso, e tirando a Bélgica e a Grécia somos o país menos populoso. Apenas as potências europeias (económica e demograficamente) têm campeonatos com 18 ou 20 equipas, analisando estes números torna-se anedótico incluir Portugal no restrito lote de países com 18 ou mais emblemas na liga principal.

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